- Pai quero voar, me dá asas de presente?*

 
Era uma criança muito curiosa, e não entendia muito bem como as coisas funcionavam.
Não gostava do nome, incomodava o pai suplicando para ter nome de desenho animado.
- Pai, troca meu nome?
- Como você que se chamar minha filha?
- She-Ra.
- Não pode,  é nome de desenho animado, e você já tem um nome.
-Mas eu quero pai, não gosto do meu nome.
- Não tem como, quando você for adulta vai ver que não tem como trocar de nome.
- Quem escolheu meu nome?
- Eu, filha.
- Dá onde saiu meu nome?
 
Desistia.
Mas sempre que podia implorava para trocar de nome, ou perguntava a história da escolha do seu nome. E sempre era uma história diferente.
Ela estranhava.
Era possuidora de uma imaginação em tanto.
Fazia do saco de café, bolsa.
O fio de lã, virava varal para as roupas de suas bonecas.
Toda horta era destruida quando inventava de brincar de cazinha e cozinhar para as amigas.
Bebia o xarope de groselha puro, e ficava com os dentes, a boca e a roupa, manchados.
Sonhava.
Sempre sonhadora, desde pequena.
 
- Pai, posso voar?
- Não, voa quem tem asas, você não tem asas, tem braços.
- Mas eu quero voar pai, posso construir uma asa?
- Não se constroem asas, ou você é um pássaro e nasce com ou você é gente e nasce sem.
- Pai quero voar, me dá asas de presente?
 
Tudo bem, trocar de nome não ia ser possível, mas e as asas?
 
30 anos depois, ela me contou, que desde sempre foi possuidora de asas, que sempre voou alto, na imaginação dos problemas e dilemas da vida real.
Que estas asas suportaram peso além do que poderiam suportar, mas sempre a mantiveram no ar.
Nas alturas.
Queria nome de heroína, e asas para voar, garota audaciosa essa hein? Pensei eu.
Nada, certa está ela em viver no ar, voando atrás de seus sonhos, batendo as asas que seu pai lhe deu no dia em que a vida apresentou.
 
Voa menina, voa para o mais longe que puder e o mais alto que alcançar, voa em busca daquilo que sempre soube que fosse alcançar.
 
Voa com as asas que te pai te deu, e que um dia você o protegeu.
 



Sem parar.





Créditos
Texto: Gisa Dias
Foto: Michele Link - Arroio do Meio-RS/Morro Gaúcho

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